quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Guia básico de investimentos (renda fixa) - parte 1

O blog está começando, então acho uma boa ideia começar pelo começo. A acumulação de patrimônio como eu quero fazer se fundamenta em uma equação simples e acho que é uma boa forma de visualizar isso:

Renda - gastos = investimentos

Eu gosto de associar cada parcela dessa equação em três pilares básicos nos quais acho válido investir tempo e dinheiro. Na ordem:
  1. Aumento de renda: mesmo que seja possível diminuir vários gastos, pechinchar e pesquisar preços, existe um certo mínimo de custos abaixo dos quais é impossível ir - aluguel, alimentação, saúde, transporte etc. Dito isso, é importante ter em mente que os resultados obtidos ao se investir R$ 100 por mês vão ser muito inferiores aos de se investir R$ 1000. É fundamental evitar o comodismo e buscar formas de aumentar a própria renda para obter uma sobra maior para os investimentos ou simplesmente para poder custear mais gastos (sejam eles importantes ou mera luxúria). A principal forma de investir em aumento de renda é através de educação ou, de forma mais geral, qualificação. Vários anos (às vezes, décadas) são necessários para que a renda passiva dos investimentos tome conta e ultrapasse a parcela do trabalho no acúmulo de patrimônio.
       
  2. Educação financeira: apesar de ser um termo muito usado e pouco explicado, eu vejo como a capacidade de gerir as finanças pessoais e o fluxo de caixa oriundos de alguma fonte de renda (emprego, empresa autônoma, atividades na Internet...) consumindo ele de forma responsável. Aqui, eu incluo o conhecimento e a disciplina necessários para ceder a impulsos consumistas estúpidos e pensar duas vezes antes de gastar dinheiro com bobagem que talvez não seja tão necessária assim - ou, se for gastar com alguma besteira, que isso pelo menos faça sentido dentro de seu orçamento, renda e condições financeiras pessoais. Essa parte é importantíssima e é onde eu vejo que se concentra a ideia de minimizar os gastos.

  3. Investimentos: esse é o grosso do blog - aprender como fazer dinheiro fazer dinheiro (sim, é isso aí mesmo, fazer dinheiro fazer dinheiro). Não pretendo discutir muito formas de ter um salário de R$ 10.000 ou como viver com R$ 1 por mês, mas sim discutir as diversas formas que existem de acumular patrimônio com o dinheiro que sobra da renda. 

Renda fixa e renda variável

Podemos agrupar investimentos em duas grandes categorias principais: renda fixa (RF) e renda variável (RV). Existem alguns padrões que podem ser observados entre eles (renda fixa normalmente tem menos liquidez e renda variável costuma ter mais volatilidade), mas a diferença fundamental é que a rentabilidade da RF é dada por um INDICADOR ESTABELECIDO PREVIAMENTE. É fundamental destacar aqui que o INDICADOR (ou seja, um parâmetro de referência) é conhecido, mas não necessariamente a rentabilidade (e frequentemente não é). Vou me dedicar a renda fixa nesta postagem.

De forma simples, investimentos em renda fixa são, quase na totalidade (não me lembro de nenhuma exceção, na verdade), empréstimos remunerados com juros. Da mesma forma como um empréstimo tomado de um banco exige que um valor maior seja pago no final do contrato, emprestar dinheiro para instituições financeiras também remunera o credor com um valor maior que o original. O dinheiro não é multiplicado automaticamente - esses empréstimos rendem porque as instituições financeiras que os tomam usam os valores tomados para outros investimentos mais rentáveis e pagam ao credor apenas uma parcela desses rendimentos. O principal indicador econômico usado no Brasil para guiar as taxas de juros é a SELIC; taxas de juros em todo tipo de empréstimo dependem dela de alguma forma. O valor da SELIC normalmente é expresso como uma taxa de juros anual - no momento, ela está em 6,5% ao ano.

Tipos de investimento em renda fixa

Não tem muito propósito em alongar muito aqui mas há alguns tipos de aplicações em renda fixa que as corretoras de valores e bancos oferecem. Para o investidor, em geral só muda a rentabilidade e a incidência de imposto de renda mas é bom ter uma ideia do que se trata:

  • CDB (Certificado de Depósito Bancário): empréstimos feitos a bancos diretamente para financiar as atividades deles. Nada mais do que isso. Tem incidência de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) regressivo no resgate da aplicação (22,5% dos rendimentos, descendo até um mínimo de 15% se a aplicação se estender por mais de 2 anos);

  •  LCI e LCA (Letra de Crédito Imobiliário/Letra de Crédito do Agronegócio): empréstimos feitos para financiar o mercado imobiliário e o agronegócio. Também não tem muito mistério. Não há incidência de IR, então em geral as taxas de rentabilidade são menores.

  • LC (Letra de Câmbio): mesma coisa que um CDB só que o empréstimo é feito para uma instituição financeira (como uma cooperativa de crédito), não para um banco. Mesma incidência de IR que os CDBs;

  • Tesouro Direto: compra de títulos da dívida pública (Tesouro Nacional) para financiar operações do governo. Há vários títulos diferentes que variam em indicador de rentabilidade e prazo de vencimento. Sobre todos incide a mesma regra de IR dos CDBs.
Os principais são esses. Existem outros tipos de investimentos de renda fixa, mas os mais importantes são esses e nem todas as aplicações estão disponíveis para investidores pessoa física comuns, como é o caso de CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), que só são acessíveis por investidores com muito capital ou através de fundos de investimento, que são assunto para outra postagem. Na verdade, o próprio Tesouro Direto, que hoje deve ser o tipo de investimento mais popular no Brasil (depois da poupança), só passou a ser acessível para pessoas físicas em 2002 - antes disso, os títulos públicos também só eram acessíveis através de fundos de investimento de renda fixa.

Avaliação de investimentos

Para avaliar o quão bom um investimento é (seja renda fixa ou renda variável), eu costumo levar em consideração 3 parâmetros principais: rentabilidade, liquidez e segurança.

  • Rentabilidade: não tem muito o que explicar, é a capacidade que a aplicação tem de aumentar o valor investido ao longo do tempo. Uma maior rentabilidade quer dizer que o montante aplicado aumenta mais rapidamente. É importante notar que o risco e a falta de liquidez nos investimentos costumam ser premiados com uma rentabilidade maior, um princípio que vale tanto em RF quanto em RV.
  • Segurança: representa, de forma geral, a ausência de volatilidade e a capacidade que a aplicação tem de preservar o valor principal investido, é o oposto do risco. O Tesouro Direto costuma ser considerado um dos investimentos de renda fixa mais seguros do Brasil porque as aplicações só podem ser perdidas caso o governo decida dar um calote na dívida pública, algo muito difícil de acontecer (e que traria sérias consequências para o país e para sua imagem diante de outros países); logo depois, temos os outros produtos bancários típicos disponíveis em bancos e corretoras, que dependem das instituições financeiras em questão serem capazes de honrar o pagamento. Mesmo sendo ligeiramente menos seguras que o TD, esses pagamentos só não são honrados caso o banco quebre, o que também não ocorre todos os dias. Existem sites para acompanhar dados sobre a saúde financeira de bancos, como o Banco Data, o que permite dimensionar o quão seguros são os investimentos deles.
  • Liquidez: possibilidade e prazo para resgatar a aplicação e convertê-la em um montante líquido de dinheiro. Aplicações com alta liquidez (como uma poupança) podem ter o valor aplicado convertido em dinheiro mais rapidamente, da mesma forma como uma menor liquidez significa que o valor é imobilizado por mais tempo. 

Sobre liquidez, as condições de liquidação e os prazos variam bastante. LCIs e LCAs costumam oferecer vencimentos de poucos anos devido à ausência de IR; para prazos mais longos (normalmente, a partir de 2-3 anos até 10 anos, no máximo), costumamos encontrar CDBs. Títulos do Tesouro Direto também têm prazos de vencimento muito longos (alguns vencem em 2045 e 2050). Todas essas aplicações podem ser resgatadas antes do vencimento de alguma forma, mas em geral isso pune o investidor com uma rentabilidade menor (no caso do TD, a liquidação só é feita efetivamente no próximo dia útil). Ativos negociados na bolsa (ações, ETFs, FIIs...) em renda variável são liquidados apenas 3 dias úteis depois (D+3), mas pelo preço imediato da negociação. Enfim, cada aplicação tem uma regra diferente.

Via de regra, aplicações e investimentos bons oferecem 2 desses parâmetros. O risco oferece um certo prêmio na forma de rentabilidade, da mesma forma como a imobilização do dinheiro com baixa liquidez (oferecendo uma certa segurança para a parte tomadora de que ela não precisará devolver o montante antes do combinado original), por prazos maiores, também. 

Tente pensar na apreensão ao pedir um empréstimo no banco sabendo que, a qualquer momento, ele pode pedir de volta o valor emprestado mesmo antes do fim do prazo estipulado para a devolução. Você certamente negociaria, exigindo taxas de juros menores ou a possibilidade de não os pagar integralmente, correto? Quando se empresta dinheiro para uma instituição financeira qualquer, o mesmo princípio se aplica.

Figura bonitinha que eu fiz para ilustrar os parâmetros de qualidade de investimentos. Ficou legal, vai.

Rentabilidade - investimentos prefixados e pós-fixados

O indicador em questão pode ser um valor fixo (uma porcentagem pré-determinada, tipo 10% ao ano), um indicador econômico (os mais comuns são IPCA e CDI - a medida de inflação oficial do governo e uma taxa de juros para operações de curto prazo entre bancos, respectivamente) ou um misto dos dois, combinando uma porcentagem explícita com um indicador (em geral, IPCA). No primeiro caso, o investimento é chamado de prefixado; nos outros dois (indicador e indicador + porcentagem fixa), é chamado de pós-fixado

Em investimentos prefixados, o indicador em questão é a própria taxa de rentabilidade estabelecida, que não passa por alterações até que o investimento vença. Se foi combinada uma taxa de juros de 10% ao ano, vai render 10% ao ano independente do que acontecer com a SELIC - vai render os mesmos 10% ao ano com a SELIC a 5% ou 50%. De certa forma, uma aplicação prefixada é uma aposta na manutenção ou na queda das taxas de juros - é muito melhor ter um investimento que rende 10% ao ano quando a SELIC vale os nossos 6,5% atuais que quando ela estava a 14%, em 2016.

Onde posso aplicar em renda fixa?

Aplicações em produtos de renda fixa são intermediadas por corretoras de valores (mais especificamente, DTVM - Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários), sejam elas empresas dedicadas a esse fim ou a corretora de um banco. Corretoras "independentes" são ótimas alternativas já que oferecem produtos de bancos menores, que remuneram o investidor com taxas de rentabilidade muito melhores que as dos bancões de varejo como uma forma de serem mais competitivas. Não vou fazer propaganda aqui mas existem várias opções de corretoras: XP, Rico, Clear, Easynvest, Modalmais etc. Elas são boas opções para procurar por produtos de bancos pequenos, mas não faz diferença para investir no Tesouro Direto já que a rentabilidade dos títulos é dada pelo Tesouro Nacional e todos os bancos de varejo eliminaram taxas para investir no TD há algum tempo.

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No próximo post (parte 2), vou entrar em um pouco mais de detalhe no Tesouro Direto, mostrar os títulos disponíveis, comentar sobre eles etc. Pessoalmente não gosto muito do TD, mas é um ótimo ponto de partida e normalmente é por onde se começa ao sair da poupança, então vou dedicar uma postagem a ele.

Sentiram falta de algo neste post? Gostariam de algo em específico do próximo? Me digam nos comentários! Abraços!




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